Direito de imagem AFP Image caption Após a renúncia de Moro (à direita), Bolsonaro até chamou seu ex-ministro de Judas
O relacionamento do presidente Jair Bolsonaro com o comando da Polícia Federal está em foco desde que Sergio Moro deixou o governo.
Depois que o ex-ministro e ex-juiz acusou Bolsonaro de tentar interferir com a Polícia Federal, o Procurador Geral da República, Augusto Aras, pediu para abrir uma investigação para investigar as declarações de Moro contra Bolsonaro.
Em seguida, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o início do processo.
Com a investigação em andamento, todos os dias há novos capítulos sobre a coleta de evidências e declarações em relação às acusações de Moro contra Bolsonaro, que nega ter cometido qualquer crime.
Em cinco pontos, veja o que é conhecido até agora:
1. Vídeo da reunião ministerial
O vídeo de uma reunião ministerial realizada em 22 de abril, que ainda não é conhecida pelo público em geral, é considerado uma peça-chave neste caso. Foi nessa reunião, de acordo com Moro, que Bolsonaro pediu mudanças na Polícia Federal.
O encontro de Bolsonaro com Moro e outros funcionários do governo foi gravado pela Presidência da República. A Procuradoria Geral da República (AGU) entregou o arquivo ao Supremo Tribunal Federal e informou que o HD contém todo o conteúdo da reunião, sem nenhuma edição ou seleção.
O ministro Celso de Mello manteve temporariamente o material em segredo e informou que decidirá sobre a publicidade do material “muito em breve”.
No entanto, permitiu que os envolvidos na investigação, como Moro, o procurador-geral da União, José Levi e membros do Ministério Público, visualizassem o material, nesta terça-feira (12), no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal. , em Brasília (DF).
Image right STF / Ascom Image caption O ministro do STF Celso de Mello autorizou a abertura de uma investigação para investigar as declarações de Moro contra Bolsonaro.
Celso de Mello também autorizou a PF a realizar uma investigação digital no disco rígido que contém o registro da reunião. “O especialista analisará se houve edição, alteração, seleção de fragmentos ou mesmo exclusão de dados relevantes para esta investigação”, informou o STF.
O ministro também determinou que um especialista criminal federal deve limpar o material e entregá-lo ao seu chefe de gabinete do STF.
Portanto, de acordo com o STF, o ministro, que trabalha remotamente para fazer parte do grupo de risco da covid-19, terá pleno conhecimento do material e poderá decidir sobre a divulgação, no todo ou em parte, da encontro no palácio. do Planalto.
2. O que Valeixo disse
O ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, prestou depoimento nesta segunda-feira (11) e disse que Bolsonaro teria lhe dito por telefone que não tinha “nada contra ele”, mas que queria alguém encarregado da PF com quem ele tinha “mais afinidade”. Valeixo testemunhou por aproximadamente seis horas.
Ele também disse que em junho de 2019 Bolsonaro teria sugerido substituir o então superintendente de PF no Rio, Ricardo Saadi, por Alexandre da Silva Saraiva, que comandava o FP no Amazonas; No entanto, ele disse que não sabia os motivos da troca. O ex-diretor também disse que não houve interferência no trabalho da polícia, enquanto Moro ocupou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública.
Conteúdo não disponível
Maurício Valeixo foi o eixo da saída de Moro do cargo de ministro. O ex-juiz de Lava Jato acertou o martelo quando deixou o governo quando o Diário Oficial publicou a exoneração de Valeixo do comando da PF em 24 de abril; a ordenança chegou a incluir a assinatura eletrônica de Moro, que, no entanto, disse que eu nunca assinei tal documento. Horas depois, o jornal trouxe uma retificação, sem a assinatura de Moro.
3. O que o dano disse
O diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, também testemunhou na PF. Ele até foi apontado como o novo diretor geral da PF no lugar de Maurício Valeixo, mas o ministro do STF, Alexandre de Moraes, proibiu a nomeação por entender que havia um desvio em relação ao objetivo.
Em seu depoimento, Ramage disse que tem respeito e apreço pela família Bolsonaro pelo trabalho realizado e pela confiança do Presidente da República em seu trabalho, mas disse que não possui “privacidade pessoal”. Ele também afirmou que foi consultado pelo presidente sobre a nomeação de Rolando Alexandre de Souza, o novo gerente geral da PF.
Ramage é delegado de PF desde 2005 e fez parte da equipe de investigação da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro em 2017.
Ele se aproximou de Bolsonaro na campanha de 2018, quando foi destacado pela PF para coordenar a segurança do candidato depois de ser esfaqueado em setembro e quase morto. Portanto, ele se aproximou da família presidencial, depois de passar a virada de 2018 a 2019 na festa de Ano Novo com o vereador Carlos Bolsonaro.
Com a posse de Bolsonaro, ele foi chamado ao governo. Primeiro, ele foi consultor especial da Secretaria do Governo e depois assumiu a Abin.
Direito de imagem EPA / Andre Borges Image caption A reunião do presidente com vários de seus ministros no dia 22 de abril no Planalto está no centro das investigações motivadas pelas acusações de Sergio Moro
4. Depoimento de Moro.
Em 2 de maio, Moro testemunhou por mais de oito horas na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele disse que Bolsonaro pediu que, no início de março deste ano, mudasse de chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Moro disse que recebeu, via WhatsApp, a seguinte mensagem de Bolsonaro: “Moro, você tem 27 superintendências, só quero uma, a do Rio de Janeiro”.
O ex-ministro e ex-juiz também afirmou que não acusou Bolsonaro de ter cometido nenhum crime e que entende que essa avaliação da prática do crime depende das instituições competentes.
Horas antes da audiência, Bolsonaro chamou o ex-assistente de Judas em um texto no Twitter que acompanha um vídeo sobre a tentativa de assassinato que ele sofreu durante as eleições de 2018.
5. Próximas etapas
Na terça-feira, alguns dos principais ministros do núcleo militar do governo Bolsonaro serão ouvidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público no Palácio do Planalto. Os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretário do Governo) vão falar.
Os investigadores querem ouvir você sobre a reunião de 22 de abril. Os três ministros não são investigados na investigação em andamento da Suprema Corte, mas seu testemunho pode ter implicações na investigação em andamento de seu chefe.
Celso de Mello também determinou as declarações de três delegados da Polícia Federal, que serão tomadas nesta terça-feira à tarde.
Carlos Henrique de Oliveira Souza, que era o superintendente da PF no Rio até a semana passada e se tornou o diretor executivo da corporação, segundo na hierarquia; Alexandre da Silva Saraiva, que era superintendente no Amazonas e foi convocado por Bolsonaro para comandar a PF no Rio; e Rodrigo de Melo Teixeira (ex-superintendente em Minas Gerais).
Teixeira liderou a investigação da facada sofrida por Bolsonaro durante um comício na cidade de Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018.
Direitos de imagem Pablo Valadares / Câmara dos Deputados Legenda da imagem O testemunho da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também está previsto no âmbito da investigação do STF.
Além disso, o depoimento da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) está marcado para quarta-feira. Um dos aliados mais próximos de Bolsonaro no Congresso se envolveu no caso devido a uma troca de mensagens com Moro, divulgada pelo ex-ministro.
Na conversa, o deputado pediu ao então ministro que “aceitasse (delegado Alexandre) Ramagem (encarregado da Polícia Federal) e fosse ao STF em setembro. Me comprometo e ajudo a fazer a promessa de JB (Jair Bolsonaro)”. , ela diz
Quando a fase de coleta de evidências e depoimentos no âmbito da investigação terminar, cabe ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras, decidir se deve ou não denunciar Bolsonaro ou outra pessoa.
De acordo com a solicitação do PGR para abrir uma investigação, Bolsonaro pode ter cometido, em teoria, crimes de falsidade ideológica, coerção no decorrer do processo, defesa administrativa, peculato, obstrução da justiça e corrupção passiva privilegiada. Moro, segundo Aras, pode ter cometido crimes contra a honra e o crime de denúncia difamatória, se suas acusações contra Bolsonaro forem falsas.
Se o presidente for efetivamente denunciado, caberá à Câmara dos Deputados decidir se deve ou não ser investigado durante seu mandato. Para que a investigação continue, são necessários 342 votos de 513 deputados. Uma vez que a Câmara aceita a denúncia, o Presidente é afastado do cargo por seis meses, 180 dias, para que o Supremo Tribunal possa concluir as investigações e emitir um veredicto.
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fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52636838