Por que esses gerentes estão apostando na queda do dólar?
(Imagens falsas)
SÃO PAULO – Com um aumento de 23% no resultado acumulado do ano, o dólar permaneceu forte em meio à crise causada pelo coronavírus, diante das crescentes tensões globais. A corrida por ativos mais seguros é esperada em tempos incertos, embora no Brasil o movimento da desvalorização da moeda tenha sido mais expressivo do que em outros países e aproximou o dólar do patamar de R $ 6,00.
No entanto, nas últimas semanas, a valorização da moeda americana perdeu força e a queda do dólar chega a 7% apenas nos primeiros dias de junho, com negociações abaixo de R $ 5,00 nesta sexta-feira.
Cada vez mais gerentes de recursos se opuseram taticamente à moeda dos EUA, com vistas a uma mudança no curso da moeda.
Márcio Appel, sócio e fundador da Adam Capital, chegou a afirmar nesta semana que vê o dólar sendo negociado a R $ 4,00 e a Selic como o cenário mais provável, ao nível de 1%.
Após um período de forte saída de investimentos estrangeiros, especialmente de mercados emergentes, e com forte ação dos bancos centrais mundiais para conter a escalada da crise, a percepção do mercado começou a melhorar, diz Ricardo Kazan, gerente da Novus Capital.
“Após a ação dos bancos centrais, principalmente do Fed [autoridade monetária dos EUA], o mercado de ações começou a ver que já havia liquidez suficiente e que, em algum momento, as economias reagiriam. A partir de 15 de maio, começamos a ver um retorno do fluxo para os países emergentes, com a reabertura das economias e a reavaliação dos mercados “, afirma.
O acordo entre os líderes europeus sobre um pacote de recuperação de custos fiscais para a União Européia também foi encorajado, diz Kazan, e contribuiu para o enfraquecimento global do dólar.
Liquidez a favor do risco
A Novus manteve uma posição contra o real e o euro, que foi consideravelmente reduzida. Agora, o gerente é “comprado” (com uma aposta máxima) na moeda brasileira e “vendido” (com uma aposta até o outono) em pesos mexicanos.
No entanto, Kazan enfatiza que o movimento é tático e que as pressões sobre a moeda brasileira continuam, especialmente com taxas de juros tão baixas no Brasil e a perspectiva de um saldo em conta corrente próximo de zero.
A Truxt Investimentos, por sua vez, diz que capturou boa parte da valorização do dólar ao longo de 2020, mas percebeu os ganhos quando o preço chegou a R $ 5,70, em meados de maio, e hoje está em posição zero.
Se o cenário externo continuar com a reabertura das economias em andamento e se não houver agravamento das crises internas, a tendência é que a recente valorização do real continue, diz José Tovar, CEO do gerente.
“Por outro lado, com taxas de juros tão baixas, se o ambiente piorar, o dólar subirá novamente”, diz o especialista, citando entre os principais riscos no radar uma segunda onda da pandemia, na frente global, e uma deterioração da percepção do mercado em relação à política fiscal, internamente.
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Em seu relatório mensal mais recente, Garde Asset observou que “na condição de que os riscos mapeados não evoluam significativamente, a liquidez injetada no mundo continuará a apoiar um ambiente propício ao risco”.
E, de acordo com o que Kazan da Novus disse, ele enfatizou que vê uma possível janela fraca para o dólar nos próximos meses, uma vez que uma parte significativa do movimento de apreciação veio da escassez da moeda americana nos mercados, o que foi amplamente atacado por liquidez “abundante”.
Giro rápido da mão
Com relação às notícias brasileiras, a Gap Asset passou a ter uma visão mais construtiva dos ativos locais, também a partir da segunda quinzena de maio, quando identificou sinais de melhoria na governança.
O aumento do diálogo entre Jair Bolsonaro e o prefeito Rodrigo Maia, bem como a reunião com os governadores para definir o veto ao aumento do funcionalismo, foram eventos importantes que contribuíram para a Gap adotar posições relevantes compradas no real e nas ações mercado nas últimas semanas.
A percepção de queda no uso de hospitais privados nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, indicando que o sistema de saúde brasileiro não poderia entrar em colapso nas principais cidades do país, também apoiou a estratégia de apostar na recuperação de ativos locais .
De qualquer forma, a intensidade do movimento de valorização do real foi tão grande que o gerente já zerou a posição longa na moeda local.
Oscar Camargo, CIO da Gap, disse, no entanto, que não descarta retomar a posição, dependendo principalmente dos riscos internos. E monitora os efeitos da liquidez injetada nos mercados, que podem ter excedido o necessário, com um potencial risco de bolha no futuro.
Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, não falou de uma bolha nos mercados, mas observou, na terça-feira (2), que ficou um pouco surpreso com o progresso dos mercados norte-americano e brasileiro, sob a perspectiva de uma economia fraca. recuperação em 2021.
“Estamos dando uma volta nos preços dos ativos”, disse ele, acrescentando que os mercados emergentes foram em grande parte arrastados pelos asiáticos. “Estou muito menos otimista sobre o Brasil.”
Aposta de risco para indivíduos
Se já é arriscado o suficiente para os gestores de fundos fazerem apostas em moedas, para o investidor individual, o quadro é ainda mais desafiador. No entanto, o risco não impede que o pequeno investidor tenha acesso a produtos que o posicionam não apenas pelo aumento, o caso mais comum em plataformas, mas também pela queda do dólar.
O fundo Trend Short Dolar FI Cambial da XP, por exemplo, replica a mudança no real brasileiro da venda de contratos futuros em dólar. Responsável pelo produto, Danilo Gabriel destaca que é uma alternativa explorar qualquer movimento tático do ativo (comprado em reais, vendido em dólares) ou mesmo com viés de cobertura (proteção).
O fundo foi lançado no início de 2019 e é acessível às pessoas, considerando o investimento mínimo de R $ 500,00.
Dada a dificuldade em mapear cenários assertivos de taxa de câmbio, inclusive por gerentes profissionais, Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, não recomenda investidores individuais para a troca de moeda.
Defensor da diversificação internacional de portfólio, especialmente em um período de juros tão baixos no Brasil, De Callis diz que, para os clientes da casa, que geralmente possuem ativos bem acima da média brasileira, a indicação é também de uma diversificação de moeda além da dólar
Os fundos de câmbio seriam indicados apenas para fins de hedge, como para investidores que pretendam viajar para o exterior no futuro e exigir a compra de dólares.
Comparado a uma moeda americana ainda muito apreciada em relação à brasileira, o estrategista também sugere que os investidores interessados em fundos com alocação em ativos no exterior procurem produtos com hedge cambial, para evitar correr o risco da moeda.
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fonte: https://www.infomoney.com.br/onde-investir/perda-de-folego-do-dolar-leva-gestores-a-reposicionarem-carteiras/