Em um editorial, o Financial Times diz que Bolsonaro levanta temores sobre a democracia.
Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto (Andressa Anholete / Getty Images)
São Paulo – O jornal britânico Financial Times publicou um editorial no domingo passado intitulado “Jair Bolsonaro levanta temores pela democracia brasileira”. No texto, a revista menciona a estreita relação do presidente brasileiro com o Exército e seu apoio às manifestações que pedem o retorno da ditadura militar, relata os recentes confrontos do Executivo com instituições do país e alerta sobre o risco “real” de uma maior democracia. Da América Latina
O Financial Times lembra as semelhanças de Trump e Bolsonaro, conhecidas como “Trump Tropical”, mas destaca a possibilidade de as instituições brasileiras “enfraquecerem”. Segundo o Financial Times, Trump e Bolsonaro são nacionalistas que “falam do amor de Deus e de armas”, a propensão a governar através do Twitter e uma apreciação por estimular suas bases com retórica divisiva.
“No Brasil, porém, há uma possibilidade mais preocupante: Bolsonaro, cada vez mais aterrorizado, está decepcionado com o processo democrático pelo qual assumiu o cargo e quer prejudicar as instituições que apóiam o país”, alerta o jornal.
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O jornal britânico lembrou que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, alertou seus pares no fim de semana passado que o Brasil se parecia com a Alemanha nazista. “Pode parecer exagerado, mas poucos presidentes eleitos considerariam participar de uma manifestação na qual manifestantes solicitam que o Congresso e a Suprema Corte sejam fechados e substituídos pelo regime militar”, diz o Financial Times no editorial. “Foi isso que Bolsonaro fez, não um, mas vários”, continua, lembrando que o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi “forçado a renunciar” depois de citar uma frase do ministro de publicidade de Adolf Hitler, Joseph Goebbels.
Segundo o Financial Times, depois de uma ditadura militar que durou mais de 20 anos, deixando o país em “caos econômico em espiral e dívida externa”, além de “profundas cicatrizes da perseguição e assassinato de centenas de oponentes políticos”, a democracia dos maiores A nação latino-americana fez “grandes progressos”.
O Financial Times cita, por exemplo, a Constituição de 1988, a retirada dos militares do poder e o surgimento de novas instituições civis, como o STF, o Congresso e a imprensa “vibrante e independente”. “Essas instituições agora atraem a ira de Bolsonaro”, diz o jornal britânico, referindo-se à investigação do esquema de distribuição de notícias falsas envolvendo os filhos do presidente e ao pedido de apreensão do telefone celular de Bolsonaro em meio a investigações de interferência na autonomia da Polícia Federal.
No final do artigo, o Financial Times alerta para o medo dos brasileiros de que Bolsonaro esteja tentando provocar uma crise entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário para justificar a intervenção militar.
A tentativa aconteceria, diz o Financial Times, em meio à queda nas intenções de voto do presidente, problemas crescentes com a pandemia de coronavírus do país, baixas expectativas em relação à implementação de reformas econômicas e saídas de capital.
“Até agora, as instituições brasileiras resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o Exército apóie um golpe militar para instalar Bolsonaro como autocrata”, diz o Financial Times. “Mas outros países devem levar em conta: os riscos para o maior democracia da América Latina é real e crescente “.
fonte: https://www.infomoney.com.br/politica/em-editorial-financial-times-diz-que-bolsonaro-deflagra-temores-sobre-democracia/